Poltrona 33

Rodoviária de Cruzeiro do Sul, 19h. (Foto: Glauco Capper)
Viajar de ônibus ganhou um novo sentido pra mim: tortura do início ao fim!
Cometi a asneira de perder o voo para Cruzeiro do Sul, e como era uma viagem à trabalho na cidade, temendo represálias ou chacotas ou punições mais severas, sem delongas, parti para a rodoviária onde peguei um táxi que não ia até Cruzeiro, mas que chegaria mais rápido a Tarauacá.

Bem, meio dia e quinze, entro no táxi que vai buscar uma passageira que está no centro de Rio Branco. Chegando lá, ela diz para o taxista:

- Preciso pegar minhas coisas lá na Sobral e uns documentos lá no Ouricuri.

Literalmente o oito e o oitenta. Eu já feliz da vida né... Ai com a comédia da vida real, fiquei mais ainda. Só que não! Bem, não teve outro jeito, já que os taxistas se submetem a quase tudo para fechar passageiros para os municípios.

Já chegava às 15 horas e a partida então seria certa. Pegamos a estrada, BR 364, o carro ‘um pouco pesado’ com seis passageiros e o motorista com seu pé mais leve que pena.

Imaginei... Só peguei táxi porque achei que ia ser mais rápido. Me lasquei pela segunda vez!

Chão pra que te quero, estamos indo nós. No banco de trás, ia um casal bem apaixonado. Aparentavam estar bem próximos a casa dos quarenta, mais um fogo de um casal de quinze.

Depois de muito parar e lanchar, chegamos a Feijó, de bucho cheio, claro. E para deixar o casal mais “Love Love” da parada, uns “vira aqui”, “vira na próxima”, “tamo chegando” que nunca chegava, “é bem alí” que não era. Enfim, deixamos o casal para “ailoviar” à vontade e partimos para Tarauacá. Como a vida de taxista é dura, e a pressa não faz parte do seu imaginário, além do oportunismo de economizar gasosa, uma van que passava foi parada. Entre acertos financeiros e “baldeamentos de nóis”, saímos de Feijó de van, cheia de pessoas superanimadas. Menos eu claro.

Até aí beleza. Tive que esperar o busão que passava às 2h e, então, Cruzeiro partiu!

As 6h e 15, vi apontando no horizonte a cidade cruzeirense. Nossa, a festa estava garantida dentro de mim. Apesar do cansaço, fiquei sim muito feliz. Cheguei a tempo de tomar um bom banho, tirar a inhaca da viagem e me preparar para cumprir minha agenda de trabalho durante aquele dia. 


Catedral Nossa Senhora da Glória construída em 1957. Umas das maiores referências turísticas do Acre. (Foto: Glauco Capper)

Surpresas ainda estavam por vir. Com o no-show pelo não embarque, o retorno de avião não foi garantindo. E ai, vamos apelar: busão pra voltar para Rio Branco.

Já dentro do ônibus às 19h e 40, me sentindo aliviado e ao mesmo tempo preocupado para aquela longa jornada noturna de retorno pra casa. A vontade de dormir tomou conta de mim, até que o mais inacreditável aconteceu.

Um casal na poltrona a minha frente, passaram a noite fazendo o que não devia. Olha, é uma situação constrangedora, já que, de certa forma, exigir algum tipo de respeito ali é quase que assinar a expulsão imediata.

Bem, não foi nada fácil. Era um chamego, um fungado e de repente o banco desce duma vez em cima de mim. E o pior de tudo é que a seca era tão grande, que foi a noite toda. Não parou um instante. E inspirou até uma moçoila e rapaz que partiram pro banco de trás de onde eu estava para muvucar também! Putz... Que noite! Só sossegaram um pouco mais, quando a luz do dia deixava as claras o rito prazeroso dos casais.

É, não tinha luz para afugentar a promiscuidade. O negrume foi um prato cheio pra tudo. Até para um jovem ir ao banheiro e puxar um baseado. Esqueceu que fumaça vaza. Empestou o ônibus! Ai, ia dando um rolo, mais com consciência e talvez negligência, o ‘comissário’ do transporte apenas disse que não podia fumar e tal, levou numa boa. Fazer o quê né!

Mais a boa mesmo, foi ter chegado em casa. Depois de dois dias intensos de voltas e reviravoltas, aprendi a chegar cedo em um aeroporto. E se for viajar de busão, comprar passagens cedo, reservando a cadeira de preferência ao lado do motorista, para que assim, possa se ter uma viagem mais tranquila! E na boa, esse foi apenas o relato de minha experiência naquela noite. O que passar disso, ou o que render mais que isso, não sei mais de nada, #morreunobus!

Umas das melhores coisas que me aconteceu na viagem: experimentar o delicioso guaraná fabricado em Cruzeiro. (Foto: Glauco Capper)

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